quarta-feira, 13 de março de 2013

Boate Kiss: Delegados estarrecidos com Prefeitura de Santa Maria







Delegados responsáveis pela apuração da maior tragédia da história gaúcha estão firmando uma convicção sobre a forma como o Alvará de Localização (uma espécie de certidão de nascimento de um estabelecimento) foi concedido à boate Kiss:

— É uma bagunça, uma vergonha.

A frase, proferida pelo delegado Sandro Meinerz, refere-se ao fato de a prefeitura ter emitido o documento sem aprovar o projeto de reforma apresentado pelos sócios.

— Tudo indica que, enquanto um setor da prefeitura cobrava soluções de segurança, outro setor tratava de agilizar a liberação do funcionamento da boate — diz Meinerz.

Na terça-feira, o projeto de reforma do prédio da Kiss, que estava desaparecido dentro da prefeitura, foi entregue à polícia. A análise do documento é fundamental para entender como foi concedido à boate o Alvará de Localização sem a aprovação do projeto de reforma do prédio para a instalação da danceteria. Antes, o local abrigava um cursinho pré-vestibular. Na madrugada de 27 de janeiro, a boate se incendiou, e o fogo e a fumaça mataram 241 pessoas, a maioria jovens universitários.

Feito pelas arquitetas Cristina Gorski Trevisan e Lisie Basso Vieira, o Projeto de Reforma Sem Ampliação de Área do Imóvel havia desaparecido porque estava arquivado, desde 2010, no setor de protocolos, esperando que suas autoras fossem retirá-lo. Ou seja, o documento não estava guardado junto com a papelada usada para liberar os alvarás e outras licenças da boate, que a prefeitura encaminhou à polícia.

A existência desse projeto veio à tona na semana passada, com o depoimento prestado pelo arquiteto da prefeitura Rafael Escobar de Oliveira, que disse ter recomendado 29 alterações no documento (boa parte ligada a itens de segurança, como portas de emergência).

Na segunda-feira, a arquiteta Cristina prestou depoimento à polícia e disse que o projeto começou a tramitar com o nome do primeiro proprietário da Kiss, Alexandre Costa. Depois, o nome foi trocado para Econ Empreendimento de Turismo e Hotelaria Ltda. Cristina disse que o projeto havia sido aprovado. Ontem, Lisie reforçou que o documento foi aprovado e que soube disso por Costa. A arquiteta não soube informar, porém, quem aprovou os papéis.

O produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha Leão, falou mais uma vez à polícia nesta terça-feira – a primeira, no dia da tragédia, quando ele foi por duas vezes até a casa noturna com policiais, e a segunda, no dia seguinte ao incêndio. Desta vez, o delegado Marcos Vianna esteve na Penitenciária Estadual de Santa Maria, no distrito de Santo Antão, onde Leão permanece preso preventivamente, acompanhado de um escrivão. Segundo o delegado, o produtor reforçou as versões anteriores. Em outro depoimento marcado para ontem, Mauro Hoffmann, sócio da casa noturna, não fez declarações à polícia.

Conheça o perfil de cada uma das vítimas da tragédia http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/pagina/perfis-das-vitimas.html

Como tudo aconteceu.

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelecimento, pelo menos 241 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridos.

A tragédia, que teve repercussão internacional, é considerada a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.

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